Há uma vontade de mudar o mundo perceptível na juventude. É cada vez mais visível que existe um movimento de participação desse público nos debates sobre as situações que afetam a sociedade, principalmente nas redes sociais, sobretudo neste momento conturbado no qual vivemos no cenário político, em todas as suas instâncias. A juventude não se contenta mais somente em ser afetada pela lógica prevalecente dos mais antigos, ela quer decidir também.
Temas como genocídio da população jovem - principalmente negra - redução da maioridade penal, efeitos do aquecimento global, legalização das drogas e aborto impactam diretamente a este público. Vistos por muitas vezes com descrédito pelos poderosos, os jovens se viram obrigados a entrar no debate e tomar as rédeas do seu futuro. Estão tendo que entender que quem deve decidir o melhor para si não é os seus pais ou o governo, senão os próprios jovens.
Isso é muito bom, por que é justamente nos mancebos onde está o vigor para realizar as transformações das quais tanto precisamos. Os governantes não estão preocupados em formar uma nova sociedade discursiva, combativa, consciente e conscientizadora, mas estamos aprendendo na marra, mesmo que soltos e eufóricos, sem muito foco a princípio. Queremos mudar o mundo, mas ainda não encontramos o caminho para isso, num país que não tem tradição com revoluções. Parafraseando Cazuza, nossos heróis morreram e nossos inimigos estão no poder, logo, de modo geral, não temos uma referência.
A palavra de ordem para os próximos anos parece ser "renovação". A democracia comandada pelas raposas velhas mostra-se frágil: no cenário nacional o partido que ocupa o poder há quase 13 anos enfrenta forte rejeição. Os resultados das últimas eleições confirmaram essa impressão, já que o público jovem apontou para o novo e o número de votos nulos e brancos surpreendeu. Aqui na cidade de Ilhéus, o prefeito Jabes Ribeiro, no auge do seu quarto mandato, também é rejeitado, descontentamento que se amplia aos vereadores, a maioria reeleitos, cada vez mais inexpressivos e inertes.
A força desse público já foi historicamente comprovada. Aliados aos movimentos artísticos, a juventude já mostrou poder de fogo nas "Diretas Já" e no "Fora Collor". No cenário ilheense o "Reúne Ilhéus" mostrou o poder de mobilização e a resistência da juventude ilheense. Reescrevendo as linhas da conhecida história, a arte já se apresenta como um instrumento poderoso para unir forças, vide os projetos cada vez mais lotados: destaque para o Coletivo Rap de Rua, que utiliza a ideologia revolucionária do rap, promovendo ações e eventos como o "Consciência Alternativa" e a "Coleta Solidária". Isso mostra que aos poucos estamos acertando a receita e, se as projeções se confirmarem, nós vamos surpreender o mundo.
CJ (Christian de Jesus) é músico, rapper do grupo Poesia de Favela, Técnico em Gestão de Negócios pelo CEEP AMEV, membro do Coletivo Rap de Rua e Estudante de História da Uesc.