As favelas, as periferias sempre foram fragilizadas. Quem conviveu em uma periferia desde cedo sabe o pavor que se tem da polícia. Esse pavor me parece um instinto de sobrevivência perceptível até nas crianças, que desde cedo são condicionadas ao caos da falta de tudo e do ciclo contínuo da violência. Ser jovem e negro acentua ainda mais a sua condição de alvo de um possível assassinato.
O que prova que a criminalidade, antes de tudo é um problema social é a ideia de que há um racismo institucionalizado, que ignora as periferias, exceto nas épocas de campanha eleitoral. A carne negra é a que vai de graça para as penitenciárias. Agora procure um negro no curso de medicina da USP, ou nos cargos de chefia. Procure-os nos outdoors, nas chamadas das propagandas, nas novelas, salvo interpretando serviçais e escravos.
Aí você pode me dizer que isso só se aplica a "bandidos", mas o que dizer do Davi Fiúza, Amarildo, Cláudia Silva? O que dizer de mim, NEGRO, estudante universitário, trabalhador de uma multinacional, membro de um coletivo de ação social, que já teve a sua casa invadida. No portão da minha casa tem furo de tiro de policial. Minha irmã já foi atingida por bala perdida efetuada por policial.
A polícia descaracterizou-se a tal nível que inverteu de papel com os "bandidos". É tempo de repensar os métodos, refletir sobre os reais problemas que enfrentamos. Será que esses jovens que foram assassinados pelos poliais eram problemas reais, ou seriam uma consequência de um problema ainda maior. Quando surge o sintoma, é por que o câncer é ainda maior do que parece ser.
Quem tem medo da polícia?
CJ (Christian de Jesus) é músico, estudante do curso de História da Univerdidade Estadual de Santa Cruz e membro/fundador do Coletivo Rap de Rua