
Vejo alguns relacionamentos de Facebook e às
vezes me pergunto qual é o verdadeiro significado do amor. Para uns, não existe,
para outros, sofrimento eterno, alguns dizem que ninguém é feliz sem amor, os
mais religiosos acreditam ser um dom de Deus...
Eu, porém insisto em acreditar que o verdadeiro significado do amor não está nos presentes caros, ou nas carícias, nem nas juras secretas, tão pouco nas palavras. O amor, na minha concepção, é uma prova de resistência.
É tão fácil amar alguém pelas características positivas, como no início de um flerte adolescente, onde só se mostram as qualidades, as palavras bonitas e quer-se agradar o outro a todo custo, mesmo que para isso parte de sua personalidade seja ofuscada, incauta, enrustida atrás de uma boa aparência.
Com o passar do tempo as coisas se modificam um pouco, já que ninguém vive atuando o tempo todo. Alguns resquícios do que realmente somos começam a aparecer, já se conhece o outro com relativa propriedade. São inevitáveis alguns estranhamentos... Mas ainda assim, o sentimento prevalece.
Mas quando se tem uma certa intimidade, consequentemente cria-se uma liberdade maior e, quando se tem liberdade, o desejo é ser solto, leve, largado. Aquela preocupação do início em ser a pessoa ideal não é mais a prioridade. As meiguices, os gestos bonitos, as palavras, as carícias são raras, como se o tédio tomasse conta de tudo e o cansaço começa a ser aparente. Os questionamentos são imediatos, do tipo "Eu não lhe reconheço mais”...
Certa vez li um poema que diz que "amor não correspondido vai virando um deserto". Mais ou menos isso: a fonte seca, a voz se cala, o que parecia imensidão definha, desgasta e termina por acabar, e quem dizia que lhe entendia agora não quer mais saber. Talvez não fosse amor...
Mas será que existe o amor? E, se existe, quem inventou o amor? Renato Russo, nosso grande poeta, era um questionador desse sentimento, e isso é perceptível em suas poesias cantadas. Talvez ele não soubesse quem inventou o amor, mas com toda sua genialidade soube criar um conceito brilhante para esse mistério do universo. Uma fusão espetacular entre um texto bíblico escrito por Paulo de Tarso, romano e apóstolo de Cristo, e um poema de Luis Vaz de Camões, grande poeta português. Monte Castelo é uma das mais aclamadas músicas da Legião Urbana: "Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor, eu nada seria". É impressionante como os dois textos estão interligados. Não é necessário ser um amante da literatura para perceber a conexão entre as ideias. A percepção de Paulo e Luis sobre o amor parece ser de uma mesma pessoa... Renato conseguiu observar quão grande homogeneidade e transformou numa coisa só.
Como escrevi anteriormente, o amor é uma prova de
resistência. Hoje, talvez exista uma banalização desse sentimento. Uma vez li em
algum lugar que "até ursinhos de R$1,99 dizem eu te amo". Mas há de
se reconhecer que o verdadeiro amor, na sua plenitude, no auge de sua
sinceridade, aparece justamente quando o rompimento do laço que liga um ao
outro parece eminente. Todavia o amor quando é verdadeiro "tudo sofre,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta", como diz o texto de Paulo.
O poeta português, Camões, chama atenção para a contradição do amor: "É fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não de sente (...), é dor que desatina sem doer". Ninguém é perfeito, e quando se ama, assume-se isso, veste-se essa responsabilidade de amar, mesmo que doa às vezes, mesmo que fira, mesmo que seja necessário esperar pelo outro. O amor tudo suporta.
Não, não confundam o amor com masoquismo, muito menos com sadismo, já que às vezes quem faz sofrer não faz por querer, mas por ser, se é que me entendem. Quem ama de verdade não quer fazer sofrer. A prova disso é que até os pulam a cerca fazem isso às escondidas...
Mas quem sou eu pra definir o amor, eu que ainda nem tenho certeza se já amei de verdade, no sentido de relacionamento bilateral. Mas por via das dúvidas reconheço o poder que ele exerce sobre as pessoas. Atenho-me apenas a seguir o conselho do meu ídolo: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, por que se você parar pra pensar, na verdade não há."
Por Christian Jesus.
Gostou? Então adicione-me no Facebook e siga-me no Twitter.